sexta-feira, 24 de julho de 2009

A lágrima da partida...

Parar um pouco no tempo, sentado naquele banco, foi uma forma, talvez a única forma, que encontrei para preparar emocionalmente os momentos que, inevitavelmente, se seguiriam. Sabia que quando pegasse no meu saco e me aproximasse da saída nada seria como dantes, talvez já não fosse, pois seria engolido pelo ambiente, pela vida e pela agitação de uma cidade, que desconhecida, me chamava e me convidava a romper com o passado. Seria o grande desafio que meu Ser precisava vencer para aceder ao patamar que tanto ansiava. Não tinha margem para reverter, esta era uma viagem sem retorno.
Se fora forte na decisão teria também de ser forte na concretização. Era o momento para demonstrar a coragem que perante todos exteriorizei. E, num impulso, a mente ordenou e o corpo obedeceu. Meu olhar elevou-se, e, pegando no saco, corri para o grande arco central e atravessei a robusta galeria até à porta principal, e, aí sim, estava a linha virtual que separava os dois mundos. Parei!
Deixara para trás o brilho das manhãs soalheiras de primavera, deixara a paisagem calma dos campos verdes e o cheiro das flores que desabrochavam, deixara a beleza das sebes bem aparadas e cuidadas como tesouros, deixara as árvores que adornavam cada recanto e acolhiam os ninhos e o chilrear dos pássaros, deixara os dias de saudável odor a madeira acabadinha de aplainar, deixara o sorriso de pessoas simples que faziam de cada dia uma humilde aclamação à sua existência, deixara a harmoniosa pacatez mas tão salutar vivência humana. Deixara o abraço dos que, interiormente apreensivos, me sorriam e me cobriam do calor da sua presença. Deixara para trás as lágrimas de quem nunca me tinha visto partir, de quem sentia cada dor como se fosse um pedaço de mim, de quem me amava e que, por muito orgulho que reconhecesse da minha decisão, se recusava a abdicar do meu olhar em cada manhã. Eram lágrimas de amor, eram lágrimas de mãe.

3 comentários:

  1. uma lágrima de mãe é um sopro que do coração dela sai...
    bjs de luxo

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  2. Como eu sei que é dificil sentir a lágrimas de um mãe,e quantas vezes temos vontade de soltar lágrimas no colo delas, no carinho delas,e tentamos engolir nossas lágrimas porque não suportamos vêr a dor de uma mâe. Contudo as lágirmas não são apenas de tristeza, mas também de alegria. Mas, quando há lágrimas tudo eleva a tristeza, e, então seguramos as nossas para não sentir as dos outros. Quantas vezes choro porque estou feliz... e choro porque porque me entristece a alma. Mas, prefiro chorar que ver os outros chorar e principalmente a minha mâe.

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  3. Nada mais genuíno que uma lágrima… é o brotar de uma sensação que não se conteve interiormente. É a prova de que a sensibilidade existe e, de tão intensa, naturalmente se exterioriza.
    A lágrima não denuncia fraqueza mas sim sensibilidade e intensidade interior.
    Obrigado pelo comentário Lina
    Beijinho

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