terça-feira, 7 de julho de 2009

...intensamente...

O céu estava limpo, a temperatura era de verão mas o vento era de inverno. Chegaram ao início da tarde com sorrisos e olhares apaixonados, perdidos entre carícias e com uma adrenalina típica de adolescente. Percorreram em corrida e de mãos dadas a passadeira de traves velhas que dava acesso à praia. Deixaram a contemplação da paisagem para mais tarde, e, sincronizadamente, soltaram as mãos, descalçaram-se, deram um beijo relâmpago e correram em direcção às ondas de onde emanava aquela brisa fresca e húmida que lhes gelava as narinas.
A praia de Miramar é bem conhecida pela sua beleza paisagística e pelo enquadramento romanticamente jovem dos seus frequentadores. Respira-se juventude, e para onde quer que se olhe enche-se o olho de cor e harmonia. É tudo muito civilizadamente selvagem! Dogmaticamente perfeito quando se avista ao fundo a capelinha do santo milagreiro. Embutida na jazida de pedra que se ergue do mar, firmada pela vontade e crença humana, transforma-se numa atípica micro ilha de culto sempre que a maré sobe e o mar anda agitado. Mas em cada dia, o milagre acontece, a maré baixa, as águas recuam e lá podem ir os crentes de pé enxuto. Sente-se o aconchego da praia quando de perto da água se vislumbram as dunas, parece que toda a extensão de areal forma uma grande galeria reservadamente romântica em dias de pouca afluência. Ao longo da cortina de água erguem-se, dispersos, penedos em forma de menires e que servem de poiso às gaivotas e ancoradouro às algas soltas.
Isa estava extasiada. Caminhavam lentamente sobre a areia molhada enquanto conversavam e sorriam. Empenhadamente impunham a cada palavra um ritmo e uma satisfação apaixonante. Isa quis conhecer a capelinha, e como crente que é, fez questão de subir as escadinhas e de entrar na porta rústica de molduras mordiscadas pela agressividade do clima e prestar em silêncio o seu culto oratório. Em silêncio entrou em silêncio saiu. Procurou a mão de Sérgio e foram subindo as restantes escadas em torno da capelinha ate à pequenina abertura que dá acesso à jazida rochosa onde as ondas rebentam e enchem o ar de salpicos. Sentaram-se na rocha mais elevada e, tomando os braços, experimentaram um beijo húmido e temperado pelo mar.
Trocaram o cenário marinho pelo aconchego do carro, o vento agreste pelo calor dos seus corpos, o rebentar agitado das ondas pela música calma e pelo prazer de um colo. Falaram da vida, das suas filosofias, da actualidade irreverente, fizeram trocadilhos, soltaram gemidos e perderam-se entre carícias sem notar que o tempo avança sem piedade, insensível aos preceitos do momento.
Sérgio relançou Isa e, tomando-a de assalto, olhando-a nos olhos, sugeriu a surpresa.
- Vamos voltar à praia!
- Mas Sérgio, o vento, o clima agreste…
Sérgio saiu do carro de instinto afrodisíaco, abriu-lhe a porta e, pegando na sua mão, puxou-a para que sentisse que afinal já não havia vento. Correram ambos em direcção ao mar. Só a praia permanecia a mesma, o clima era outro. O mar agora estava calmo, a lua cheia apareceu no céu e as estrelas começavam a emanar o seu brilho. Ao fundo a capelinha e o seu encanto nocturno que decorava o horizonte com a sua branca iluminação.
- Lindo! Exclamava Isa ao ouvido de Sérgio.
- Perfeito meu amor!
Brotou dos seus corpos uma viril e electrizante adrenalina e não tardou o abraço, o beijo, os sorrisos e gemidos safados. Rolaram entrosados pela areia fria e húmida e as suas roupas soltaram-se quando a emoção encheu os seus corpos de suor e por cada poro emanava o calor e o odor da paixão. Sérgio percorria milimetricamente Isa com beijos e carícias e esta soltava a cada toque um gemido profundo de um prazer ocultamente alcançado.
A praia deserta, o silêncio apenas quebrado pela melodia do mar, os seus corpos possuídos pelo prazer, tudo delirantemente belo e apenas com dignos cúmplices do momento, a lua, as estrelas, o mar e a capelinha iluminada que dava ao momento um alcance divino.
Foi durante muito tempo que suas mentes ascenderam a permaneceram numa dimensão supra humana. Uma espécie de patamar de prazer por excelência. Um verdadeiro estado de satisfação plena, prolongado pela plenitude dos seus movimentos.
Estava consumada talvez a maior fantasia de ambos e levada ao extremo com a criatividade de quem ama até aos limites do seu ser. Três grandes gritos de prazer saíram das profundezas de Isa. Percorreram toda a praia e o seu eco voltava como vindo do infinito. Um minuto de silêncio e dois de hilariantes sorrisos enquanto procuravam, extasiados e em corrupio, as suas roupas espalhadas pela praia.

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