sábado, 26 de setembro de 2009

LEVA-ME…!

Era uma tarde quente de final de verão. O ar quente e seco fazia desejar a frescura e humidade de uma sombra. Assim estavam Eles, quentes e húmidos, desejosos por se provarem e se refrescarem. Libertarem-se das roupas que os desconfortava e deixarem respirar cada poro do ar do outro.
Combinaram o dia mas não respeitaram a hora nem o local, um louvo à sua criatividade e capacidade de improviso. Improvisaram e não falharam.
A porta do carro abriu-se e surgiu Ela, imponente. Sexy da cabeça aos dedinhos dos pés.
Óculos escuros, sorriso rasgado, lábios bem demarcados pelo batom forte, pescoço e ombros nus suplicando pela língua Dele, seios firmes e empinados que faziam lembrar duas belas laranjas suculentas acabadinhas de colher e que Ele imaginava tão bem aconchegadas nas suas mãos, cinta fina a invejar qualquer olhar feminino, rabo redondinho de fazer crescer agua na boca, pernas longas e perfeitas como que esculpidas com arte de artista, pés nus na sandalinha aberta de salto alto que a sustinha harmoniosamente. Tudo isto “embrulhado” por um vestidinho comprido de estampado animalesco e com uma atrevida racha central de fazer suster a mais perversa das mentes! Sem ombros, fino e sedoso, contornava fielmente cada curva e realçava o despudor dos movimentos quentes das coxas.
Unhas longas cor de penumbra que nos remete para o escurinho da noite no dia, que faz lembrar um momento raro de eclipse e sobreposição dos corpos celestes.
Linda por fora, suculenta por dentro e densa nos sabores que atormentavam a sua libido!
Caminhou na direcção Dele sem nunca desviar o olhar do seu alvo, como que um predador que mede a cada segundo a distancia que o separa da sua presa. Segura, decidida e devoradora!
Entrou no carro, lançou um olhar furtivo sobre Ele e sem uma palavra suas bocas se colaram e seus olhos se fecharam. A mão Dele pousou sobre o seu ombro nu e as pernas Dela contraíram-se ligeiramente fazendo precipitar o vestidinho rachado sobre o banco, deixando a nu as pernas morenas que suplicavam pelos olhos Dele. Esboçaram um sorriso em uníssono e interiorizaram mutuamente a sua deliciosa cumplicidade. Tinham experimentado o sabor do primeiro beijo.
- Leva-me! Disse Ela em tom de fetiche e com um olhar terno mas faminto como quem assiste inerte ao fio de mel.
Por entre sorrisos safados e sugestões marotas seguiam a estrada sem rumo aparente. Aparente porque na cabeça Dele já o percurso estava a tomar forma e não tardou que Ela vislumbrasse o requinte e a audácia da sua opção. Nada que não esperasse Dele, não fosse a sintonia emocional que há já muito tempo partilhavam com veemência.
Não era um improviso inocente mas premeditado porque ambos se rendiam ao fascínio e encanto da surpresa. Consciencializaram o propósito mas alhearam-se dos meios. Assim se devem tratar as sensações, com originalidade e espontaneidade, para que a cada suspiro se sinta o seu teor genuíno.
Olharam-se nos olhos redundantemente. Uma redundância sensorialmente promíscua e cognitivamente profana tal era o chamamento carnal. Os seus corpos atraíam-se como hímenes e pelas veias fluía uma química capaz de fervilhar a epiderme.
Os dedos Dela desceram sensualmente sobre o seu corpo e com um sorriso safado retirou o alfinete que mantinha o vestidinho no seu reduto de decência. Abriu-se em dois e o que até aqui alimentava a imaginação de obscenidades passou a expor a pele morena e a perfeição das suas pernas até ao limite virtualmente divino. Ele desviou discretamente o olhar mas não conseguiu imunidade à tortura e excitação que tal visão lhe dava.
Ela estava escandalosamente provocante, e agora sim, absorta do mundo, só para Ele.
Aquele motel era novidade para ambos e isso salpicava-os de ansiedade. Estavam impacientes pelo momento em que entrariam pela porta escura que os sugava e veriam o que sibilinamente os esperava do outro lado. Queriam saborear e brindar paulatinamente cada segundo com todos os condimentos que os banhavam de sedução.
Pairou o eco das portas do carro que se fechavam e o beijo roubado entre passos lestes em direcção à porta escura. Entraram.
Subiram degrau a degrau da escura escadaria com entusiasmo e deleite. Ele ficou-se para trás e acompanhou cada movimento sensual das coxas Dela e do vestidinho que se abria e deixava a nu as suas pernas de cada vez que se ouvia a sandalinha tocar um novo degrau. No último pararam, olharam-se, olharam à sua volta e sentiram-se acolhidos pela música calma que os esperava.
Ele lançou um olhar contemplativo e esmiuçou um sorriso como que a disfarçar a inquietação que lhe percorria o corpo. Sentia cada pormenor rasgar-lhe as amarras que mantinham a sua mente sequestrada devido à materialização emocional do momento. Sentia a apreensão de um adolescente que toca pela primeira vez o seu instinto mas, em simultâneo, um misto de tranquilidade e segurança de adulto que, naturalmente, bebe da sua experiência para encontrar o equilíbrio e impor o êxtase do seu charme.
E não tardou que assumisse com determinação as rédeas da viagem. Pretendia que fosse uma viagem sim, uma viagem às suas profundezas. Outra coisa não esperava Ela Dele.
Era um lugar que combinava com os seus estados de espírito, envolvente, quente, sedutor, requintadamente romântico. Percorreram cada recanto com olhar fútil e um sorriso interior. Fútil porque em momento algum lhe deram supremacia em detrimento do sentidamente importante, o Outro. Por segundos não arriscaram sequer uma palavra e ficaram inertes enquanto seus odores contagiavam o espaço e se entrosavam.
Toda a suite era revestida e ornada com madeira escurinha de sucupira que conferia ao espaço uma envolvência e requinte nocturno. Candeeiros que faziam imaginar as curvas e elegância de um corpo feminino, focos de luz no tecto que faziam lembrar o céu estrelado, cortinados finos cor das unhas Dela e tão macios quanto a sua pele, cama longa e acetinada a convidar ao deslizar dos corpos nus, palpitação ao rubro.
Tomou-a nas suas mãos pelas ancas, fê-la rodar meia volta sobre si própria, aconchegou-a contra o seu corpo envolvendo-a por trás e premiando-a com um beijo mimado no ombro arrancou-lhe um gemido trémulo. Sentiram o calor dos seus corpos e a chama do desejo que os possuía e lhes fazia tremer a voz. Ele apertou a mão dela com uma das mãos e fez deslizar a outra pelas suas costas segurando-a e fazendo-a sentar na cama de forma tão suave como o poisar de uma pluma.
Prostrou-se na frente Dela e instintivamente os seus olhos desceram lentamente sobre o seu corpo ate caírem e se fixarem nos pés. As suas mãos seguiram religiosamente o percurso do olhar enquanto que as pernas se flectiam deixando o seu tronco ao nível dos joelhos Dela. Elogiou a sandalinha de pele clara e libertou a tirinha que a mantinha presa ao calcanhar descalçando-a com uma delicadeza angélica. Contemplou o verniz escuro e acariciou com as pontas dos dedos, em movimentos aleatórios, o seu pé que permanecia carinhosamente acomodado entre as suas mãos. Arrepiou-a com um beijo terno nos dedinhos e acompanhou-o até tocar o soalho.
Pegou no outro pé e repetiu fielmente cada pormenor. Encantada, lia-se nos olhos Dela!
Os dedos Dele foram subindo pelas pernas Dela, deslizaram ascendentemente pelo seu vestidinho e toparam nos seus seios hirtos. Desfez as curvas arrojadas e passou de relance pelos mamilos que marcavam o tecido sedoso. Sentiu-a suster a respiração quando aproximou a boca dos seus lábios e provou do seu batom. Ela deixou-se cair para trás, acomodou-se, e sentiu-se pronta para tê-lo por inteiro.
Ele pediu-lhe para que fechasse os olhos e imaginasse uma paisagem bem árida de perder de vista. Sentiu-a ociosa e inquietamente relaxada de cada vez que via-a cerrar os lábios fruto do misto de desespero e prazer.
Ela ouvia os passos Dele pelo soalho, um isqueiro que intercalava com uma festinha no pé e o calor do seu corpo sempre que era atiçada com um toque aleatório.
Não conteve a curiosidade e quando abriu os olhos confirmou o carinho e o instinto romântico com que Ele a cativava. A luz era agora oriunda de velinhas vermelhas espalhadas pela suite com os olhos dele, ao fundo da cama, a penetrarem-na estratégica e vorazmente e o seu corpo, agora nu, a invadi-la de uma insanidade faminta.
O vestidinho foi sugado lentamente por aquelas mãos carinhosas deixando, a cada segundo, mais um pedacinho da sua pele morena exposta à envolvência do momento. Cada curva suplicava pelas mãos Dele, pelo corpo Dele, pela magia e furor das suas carícias.
Sentiu-se no ar o aroma a canela e pela sua pele deslizavam as mãos Dele com uma perícia de mestre.
- Deita-te sobre mim, quero sentir o teu corpo…! Sussurrou Ela deleitada e apertando entre os dedos a colcha acetinada da cama.
Viajaram mutuamente pela suprema dimensão do prazer.
E quando o tempo esgotou o tempo que o tempo lhes dava, saíram de pele e cabelos ainda húmidos do chuveiro e interiormente saltitantes.
Voltaram à luz do sol depois da noite no dia
- Volta…! Disse Ele, atirando-lhe um beijo.

4 comentários:

  1. Banhos a dois são uma experiencia magnifica... amei!

    ResponderEliminar
  2. Pequenas coisas que fazem a diferença...!

    ResponderEliminar
  3. cada pormenor, detalhe, num misto de desejo e requinte, transportam quem lê para um lado tão mais sublime... fecha-se os olhos e sente-se cada palavra, cada momento, como se nosso fosse.magia, pura magia... as tuas palavras!
    bjs libertos em ti

    ResponderEliminar
  4. Simplesmente belo.....
    A intensidade e a pormenorização da descrição é sublime.
    A mulher docemente envolvida é, sem dúvida, uma mulher de muita sorte.
    Beijo Doce.

    ResponderEliminar